O Caso dos Alienados Brasilianos.

08/01/2017 13:20

Hoje, revisitando meus arquivos no computador, encontrei este ensaio que escrevi em 2010, durante a campanha da primeira eleição de Dilma, dias antes da confirmação de sua escolha para dirigir o país. 

Naqueles tenebrosos dias, escrevi, mas não publiquei. Fiquei surpreso com as palavras "proféticas" que acabei por digitar naquele momento.

Senão vejamos:

 

 

O CASO DOS ALIENADOS BRASILIANOS.

(Por Prof. Vilmar Antônio da Silva)

 

Quando o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva disputava as primeiras eleições presidenciais que enfrentou, havia uma grande questão que pairava sobre nossas cabeças: seria prudente eleger para presidente uma pessoa que não tinha experiência administrativa?

O que se discutia nos anos 80 e 90 era a dificuldade que enfrentaria um presidente que nunca administrara sequer um município pequeno, ao estar no poder central de um país continental como o Brasil. Lula perdeu suas eleições, em grande parte, por conta dessa incerteza que se tinha à época.  Apesar desse temor, a população brasileira, que passara por duas décadas de governantes biônicos, sem eleição direta, soube acreditar naquele sindicalista, elegendo-o. O fato é que, apesar dessa grande incerteza, Lula foi eleito duas vezes e provou que estavam enganados os que temiam, pois seus dois governos foram muito bem, com administração do mesmo nível ou melhor do que as daqueles que lhe antecederam. O país passou de periférico para compor o BRIC (grupo dos países emergentes de maior destaque nos últimos anos, composto por Brasil, Rússia, Índia e China). O operário sindicalista superou, em muito, as expectativas dos céticos e, até mesmo, dos que lhe apoiavam. O presidente-operário atingiu índices de aprovação inéditos na política brasileira, sendo amado e idolatrado por brasileiros e até por pessoas de outros países. Um verdadeiro mito mundial, pois é a realização da verdadeira democracia, onde o poder deve ser exercido pelo legítimo representante da maioria (o povo). Ainda, o carisma de Lula, combinado com seu currículo de lutador pela democracia e sua natural imagem de gente do povo construiu uma fortíssima imagem de confiança, impondo uma situação muito difícil para os supostos candidatos da oposição. Temia-se que Lula fosse capaz de transferir essa imagem de sucesso para seu escolhido como candidato de seu partido a sucedê-lo. A escolha recaiu sobre uma mulher.

As eleições no Brasil, no período pós primeira eleição de Lula, seguiram uma forma cada vez mais madura, onde os eleitores foram sendo cada vez mais exigentes e conscientes. Elegiam seus governadores, prefeitos ou legisladores federais, estaduais ou municipais, baseando-se mais na meritocracia e na lisura de seus currículos do que por ideologia político-partidária.  Uma bela demonstração de maturidade política dos brasileiros, pois o país já não era uma republiqueta insignificante. Tratava-se da 10ª ou 9ª economia do mundo.

Mas agora, já depois de tantas demonstrações de maturidade da população, as eleições presidenciais de 2010 trazem um novo quadro, no qual há uma candidata inusitada. Trata-se de uma ilustre desconhecida no cenário nacional. Apenas o nome indicado e intensamente apoiado por Lula. A campanha começou e, já no início, a ilustre desconhecida contava com maioria das intenções de voto. O povo sequer prestava atenção em informações acerca da candidata. O que se dizia era que a candidata é a indicada por Lula. Aconteceu ai, sem explicação lógica, um caso em que não interessavam valores ou experiências do candidato, e sim apenas a indicação: Lula conseguiu (magistralmente) transferir grande parte de sua imagem para uma ilustre desconhecida. O povo, agora mais amadurecido, nem quer saber desse amadurecimento. Agora Lula experimenta o efeito contrário de sua situação nas duas primeiras eleições que disputou: se naquela época ele era temido por não ter experiência, sendo derrotado duas vezes, agora ele consegue criar uma forte candidata do nada, mesmo uma ministra de pouquíssima expressão no cenário nacional, figura bem à frente de grandes nomes da política nacional na corrida presidencial. Agora o veneno que Lula experimentou no passado tornou-se remédio (e bastante doce) para os trabalhistas.

O que está acontecendo com o Brasil nestas eleições é que o povo brasileiro sofre de um apagão: dá-se a impressão de que não importa que candidato é o escolhido de Lula, se tem projetos, se tem experiência, se sabe negociar, se é ético ou não. O que importa é que representa a bandeira da continuidade – Lula continua.

O candidato da oposição tenta trazer para o debate nacional os fatos, sua grande experiência como gestor, articulista e seus planos de governo, mas os números das estatísticas temem em continuar imóveis. O povo não dá a mínima para esse debate. É como se nada interessasse, contanto que Lula “continue no poder”. O povo imagina que a ex-ministra é uma espécie de reencarnação de Lula (fenômeno metafísico, demonstrando o tamanho do mito Lula).

Pobre candidato da oposição. Nem sequer os problemas brasileiros são relevantes nesta campanha presidencial, pois o povo está alienado por uma imagem mítica do presidente-pai dos brasilianos. Que Deus nos ajude.