Geração Deseducação

23/07/2011 00:54

Geração Deseducação


   

Vilmar Antonio da Silva *

O professor está no meio da explicação e os alunos já estão se preparando para ir embora, afinal trata-se da sexta-feira e já são mais de 9 horas da noite. O baile está esperando, regado a cerveja e dança. Às 9h30m já não há ninguém em sala e até a luz já foi apagada. A sexta-feira estudantil está encerrada, pois é muito importante dar lugar à sextaneja, sextaforró, pois ninguém é de ferro! Em um país como o Brasil, recém posicionado como a sétima maior economia do planeta, que receberá a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas em 2014 e 2016, respectivamente, os entraves na educação (na verdade a falta dela) prejudicam qualquer tipo de planejamento que se possa fazer. Os dirigentes lutaram tremendamente para atrair os dois maiores eventos do planeta, que trarão grandes oportunidades de negócios, que supostamente elevarão a imagem de nosso país para patamares nunca antes experimentados pela nossa gente, mas agora o fantasma de deseducação ronda nossas cabeças. Quem serão as pessoas que coordenarão e administrarão as várias tarefas ligadas àqueles eventos? Esses mesmos alunos da sextaneja? Os alunos dos países que se destacam em educação, como Finlândia, Coréia do Sul e China têm em comum a seriedade com que conduzem seus estudos: estudar faz parte inarredável do cotidiano desses estudantes. A escola ou faculdade tem postura rigorosa quanto a horários, curriculum e desempenho. O que se busca nesses países é a excelência. Para se ter uma ideia da seriedade desses modelos educacionais, a Coreia do Sul os alunos ficam oito horas por dia na escola contra quatro horas no Brasil: em uma comparação, os alunos que terminam o 9º ano do ensino fundamental na Coreia já poderiam estar cursando mestrado no Brasil. Seria cômico se não fosse trágico. O que mais causa aflição neste professor é o fato de tudo parecer estar normal no nosso mundo educacional. Não vejo programas de debate sobre a tragédia da educação em horário nobre na TV, mas vejo os horripilantes reality shows. Os alunos não sabem o que é transposição do Rio São Francisco, mas sabem até a cor preferida do finalista do Big Brother. Sabendo que o Brasil caminha a passos largos e rápidos para a 5ª posição entre as economias do planeta, é inquietante pensar que, como as coisas estão indo, não haverá pessoas capacitadas para gerenciar tamanha riqueza. O país que tem cerca de 150 bilhões de barris de petróleo para serem extraídos nos próximos anos, que deve tornar-se o maior produtor de comida do mundo, que oferece a melhor e mais viável fonte alternativa de combustível, que é o metanol, não está formando seus pensadores. Se a sexta-feira deve ser interrompida para dar lugar à diversão, emendando finais de semana de 3 dias, o que pensar sobre os rumos que essa geração dará a toda a riqueza que a atual está construindo? O último que sair que apague a luz!

* Professor de Direito da Faculdade Cathedral