Brasil dos tsunamis e cataclismos
Brasil dos tsunamis e cataclismos
Nos últimos anos o Brasil conheceu uma experiência diferente de tudo que estávamos acostumados. A Polícia Federal investigou o esquema do “Mensalão” e o Poder Judiciário condenou vinte e quatro pessoas, em sua maioria, grandes figuras da política do Brasil. Eram tidos como “intocáveis” ao longo de nossa história, mas após uma dupla de anos, a mesma Polícia Federal aprofunda as investigações de outro grande esquema de corrupção no país, por ora conhecido como “Operação Lava-jatos”.
Em 2012, no escândalo dos envolvidos no “Mensalão”, foram condenados: Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Marcos Valério, operador do mensalão, Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério, Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, José Roberto Salgado, ex-executivo do Banco Rural, Ramon Hollerbach, ex-sócio de Marcos Valério, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Valério, João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson, ex-deputado (PTB), Romeu Queiroz, ex-deputado (PTB), Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL (atual PR), José Genoíno, ex-presidente do PT, Rogério Tolentino, advogado, Emerson Palmieri, ex-tesoureiro informal do PTB, Enivaldo Quadrado, doleiro, José Borba, ex-deputado (PMDB), João Cláudio Genu, ex-assessor parlamentar do PP, Breno Fischberg, doleiro, Pedro Henry (PP-MT), deputado federal, Vinícius Samarane, ex-sócio de Valério, Valdemar Costa Neto (PR-SP), deputado federal e Bispo Rodrigues, ex-deputado (PL, atual PR).
Foi, assim, um profundo abalo na elite do PT, sobretudo porque grandes figurões desse partido acabaram atrás das grades, isso tudo em período pré-eleitoral, o que por si só seria muito mais do que suficiente para inviabilizar qualquer pretensão de reeleição presidencial. Mas o que se viu nas últimas eleições foi uma Dilma posta novamente na cadeira presidencial, com as bênçãos do povo brasileiro. Difícil de explicar, pois o presidente do partido encontrava-se preso, mas isto é Brasil.
Apesar disso, essa quantidade de figurões condenados sinaliza nova era do Poder Judiciário e da própria Polícia Federal, pois seguindo esta marcha, logo já poderemos nos dar ao luxo de pensar que o Brasil tem jeito, e afinal aqui pode deixar de ser a terra da propina, da corrupção e do poder político e econômico.
O que, para mim que estou calejado com a impunidade nas altas rodas da política, está causando uma espécie de esperança em fase embrionária é o andamento da Operação Lava-jato, que se aprofunda cada vez mais e dá sinais de um segundo escândalo-condenações de dimensões apocalípticas, ainda maiores do que a do Mensalão. Difícil é imaginar que o PT sobreviva no poder sofrendo estes dois “tsunamis” consecutivos, num período de apenas dois ou três anos. Inimaginável noutros países, mas aqui...
Apesar deste “aqui”, a verdade é que os depoimentos dos envolvidos nesta Operação Lava-jato trazem à tona nova avalanche de esquemas, grupos organizados, partidos, corrupção, políticos e, como plano de fundo, a Petrobrás, abarcando manipulação de recursos na ordem de quase cem bilhões de reais (valores estimados por ora). O Governo Federal, responsável por dirigir a Petrobrás nos últimos doze anos, está sob o comando do PT, reeleito para tomar conta por mais quatro anos. Uma situação kafkiana, para dizer o mínimo.
Para manter a sanidade e tentar continuar otimista, prefiro cultivar o seguinte pensamento: se a Polícia Federal tem tido atuação bastante positiva, investigando a fundo esquemas mirabolantes com participação de figurões políticos e se o Poder Judiciário (leia-se Supremo Tribunal Federal, mesmo sem Joaquim Barbosa) parece apontar para a mesma determinação que teve no escândalo do Mensalão, o fato de o PT ter sido reeleito para continuar mandando no país pode ser o início de seu próprio fim, pois se o povo não acordou com o primeiro tsunami, talvez com um cataclismo possa despertar.